O ministro da Educação, Milton Ribeiro, voltou a criticar o educador Paulo Freire durante audiência realizada ontem na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.
O deputado Elias Vaz (PSB-GO) cobrou explicações do ministro sobre as críticas do gestor ao educador que completaria cem anos em setembro.
“Vimos a que pé chegou a educação pública brasileira quando abraçou de olhos fechados algumas pedagogias, que eu reputo, e quero ter essa liberdade como educador de avaliar também, posso estar errado, mas não avalio tão positivamente como o senhor. Respeito a trajetória até do educador, mas as evidências mostram que (…) o modelo proposto nos últimos vinte anos foi um desastre em termos de educação brasileira. Essa é minha avaliação”, respondeu Ribeiro.
O ministro foi, então, interrompido pelo parlamentar: “O senhor está falando do Paulo Freire? Tem dificuldade de falar o nome dele?” questionou Vaz.
“Não convém a gente falar de quem não está presente e não pode se defender. Ele é um grande educador, eu respeito, sempre coloquei isso, mas tenho minha avaliação”, retrucou Ribeiro.
Ele ainda criticou o livro “Pedagogia do Oprimido”, principal obra de Freire. Segundo um estudo de 2016, o livro é a terceira obra acadêmica mais citada em trabalhos de ciências humanas no mundo.
“O senhor leu o livro dele, ‘Pedagogia do oprimido’? (…) Se for o caso eu faço questão de lhe dar de presente este livro. Eu li três vezes, e depois a gente pode conversar. Vale a pena fazer uma avaliação sem cores ideológicas porque eu fiz isso. Antes de assumir o ministério, tive esse cuidado. Por isso que eu falo: respeito, mas falo de acordo com minha convicção”, concluiu Ribeiro.
Quem foi Paulo Freire
Inspiração para gerações de professores e pesquisadores, o pedagogo recifense desenvolveu programas de alfabetização em diversos territórios, incluindo países da África, como Moçambique e Guiné-Bissau, e da América Latina, dentre os quais Chile e Nicarágua.
Antes de ter seu método de alfabetização reconhecido no mundo todo, ele implantou um modelo de extensão universitária considerado revolucionário, que usava a comunicação (escrita e falada) para levar o conhecimento da academia para o povo. O método consiste em um diálogo entre professor e estudante, em que a educação é feita levando em conta o contexto e os conhecimentos que o aluno já tem.
Paulo Freire é considerado Patrono da Educação Brasileira e é o brasileiro mais laureado com títulos de doutor honoris causa no mundo, com homenagens de ao menos 35 universidades, de diversos países.
Ele chegou a lecionar como professor visitante na Universidade de Harvard. Entre 1989 e 1991, foi secretário da Educação de São Paulo, na gestão da então prefeita Luiza Erundina. Dessa forma, ele teve a chance de concretizar políticas públicas, entre elas o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), até hoje referência nacional.
Paulo Freire, nesse e em outros contextos, destacava a educação como um ato político: “Professores e alunos devem estar cientes das ‘políticas’ que cercam a educação. A forma como os alunos são ensinados e o que lhes é ensinado serve a uma agenda política”.
Protesto e Audiência
Representantes da Une (União Nacional dos Estudantes) e da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) estiveram na sessão para protestar contra a atuação do ministro.
Ele anunciou a criação de cinco universidades federais no País e seis Ifes (Institutos Federais de Ensino Superior). A ideia inicial do MEC era criar dez Ifes, mas, após consulta aos atuais reitores, foi confirmada a criação de apenas seis.
Ao prestar contas na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, o ministro atribuiu o sucateamento de instituições de ensino superior brasileiras a governos anteriores e a problemas de gestão nas entidades. “O grande problema da educação no Brasil não é o recurso, mas a gestão. Quando um educador leva a sério a gestão e o uso dos recursos públicos, os resultados aparecem”, disse.
O presidente da comissão, deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), criticou a iniciativa e a falta de prioridade do atual governo para a educação. “Os cortes de orçamentos das instituições federais da nossa educação pública só têm crescido a cada ano, o que atinge diretamente a estrutura física dos prédios, há falta de recursos para os laboratórios e bolsas para os nossos pesquisadores. Por que não melhorar o que precisa melhorado? Por que não colocar para funcionar o que já existe?”, questionou.
Ribeiro, no entanto, disse que os cortes no orçamento não são de sua responsabilidade e que não tem disponíveis os mesmos valores que antigos ministros tiveram para as universidades e institutos federais.
Com informações da Agência Câmara.